Eduardo Ritter
Fritei meu primeiro ovo!
Eduardo Ritter
Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel
[email protected]
Aos 41 anos de idade, fritei um ovo pela primeira vez na vida. Calma, impaciente leitor, eu não sou do tipo boca-aberta, aqueles que as pessoas dizem quando querem chamar de inútil: "mas não sabe nem fritar um ovo!". Eu sei fazer muitas outras coisas, culinariamente falando, como por exemplo: assar churrasco, fritar batata frita, bife, peito de frango, carne moída com batata, fazer lentilha, miojo e tudo o mais. Acontece que, como já comentei aqui outra vez, sou alérgico a ovo, logo, eu nunca havia precisado fritar um ovo até meados desta semana.
E o que aconteceu para que um alérgico a ovo fritasse um ovo? Pois então, após a minha pequena fazer alguns exames de rotina, a pediatra perguntou: "e o ovo? E a carne?". Eu titubeei um pouco e respondi: "pois é, ela tem uma leve tendência a ser vegetariana pelo jeito... Mas ovo ela come". A médica ficou me olhando, como se perguntasse: "então por que você não faz, ora pois!?", mas me antecipei explicando a minha alergia e prometi que, apesar disso, iria preparar ovos para a minha filha. Assim, deixei a consulta decidido a fritar meu primeiro ovo, pois ela não gosta muito de ovo cozido.
Quando cheguei em casa, apelei para os tradicionais "guias faz tudo" do YouTube. Fui lá e digitei: "como fritar um ovo". Achei um vídeo com mais de 51 mil curtidas (tu vês) e assisti. Quatro minutos de vídeo com um tiozão da minha idade ensinando a fritar ovo sem grudar na frigideira. Canal do Edy, caso o leitor também precise. Fui para a cozinha, confiante. Coloquei um pouco de azeite, um pouco de farinha de trigo e, em seguida, o ovo. Aliás, vale ressaltar que essa também foi a primeira fez que abri um ovo, batendo ele de leve para jogar na frigideira. Confesso que gostei da sensação, pois sempre via "não-alérgicos" fazendo isso e pensava, tristemente, "eu nunca vou saber quebrar um ovo desse jeito". Pois eis que agora, depois dos 40, eu quebrava um ovo magistralmente e preparava um ovo frito como poucos.
Depois de virá-lo habilmente e desvirá-lo (nem sei se precisa fazer isso, mas enfim...) olhei para aquele pedaço de comida branco com uma bola amarela no meio e fiquei na dúvida se estava pronto. Chamei minha filha para conferir e chegamos ao consenso de que, sim, devia estar pronto. Então ela perguntou: "você colocou sal, pai?". Putz! Havia esquecido o sal. Em minha defesa, argumentei que era a minha primeira experiência fritando um ovo. Sugeri que ela colocasse o sal naquele momento, depois de pronto. Isso foi feito e então, finalmente ela comeu o ovo frito, talvez o melhor já feito em toda a história da humanidade por uma pessoa alérgica a ovo.
Tal experiência me fez lembrar do livro Pai invisível, do pelotense Kledir Ramil, que li há uns 15 anos e que nunca mais esqueci. Na narrativa, o artista comenta a cômica relação com os filhos adolescentes. Pois é, ser pai durante a infância e a adolescência dá trabalho, mas também rende experiências inesquecíveis, como fritar um ovo pela primeira vez na vida.
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